É uma iniciativa inédita, a meio caminho entre religião e política, no cruzamento entre público e privado. Um observatório do pluralismo cultural e religioso deverá ser oficialmente lançado na França no início de outubro. Originalmente pensado por responsáveis católicos e protestantes para alertar a opinião pública sobre o destino dos cristãos no Oriente Médio e na Nigéria, ele cresceu de mês a mês.
A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 03-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A ambição do grupo, composto igualmente por lideranças muçulmanas e judaicas, e presidido pela jurista Mireille Delmas-Marty, membro do Institut Catholique de Paris, é de se focar nos "ataques cada vez mais frequentes e cada vez mais graves à liberdade de consciência, à liberdade de expressão e à liberdade religiosa no mundo e de favorecer o nascimento e a afirmação de sociedades pluralistas", segundo os idealizadores do projeto.
Um site trilíngue (francês, inglês e árabe) irá propor uma série de conteúdos para todos os países, realizados graças à contribuição de pesquisadores, juristas, associações presentes in loco, mas também de diplomatas.
Embora a associação tenha um estatuto privado, ela se beneficiou para o seu lançamento da ajuda financeira do Ministério dos Assuntos Exteriores francês, que contribuiu com uma subvenção de 200 mil euros de um orçamento anual estimado em 400 mil euros. Ela também recebeu o apoio do Senado francês – todas as forças políticas, sem distinção –, onde a iniciativa foi oficialmente anunciada em janeiro, com a presença de Jean-Pierre Bel, presidente socialista do Senado, e do seu antecessor do UMP [Partido União por um Movimento Popular], Gérard Larcher.
"O pluralismo das culturas e das religiões contribui para a instauração da democracia", afirma-se no Quai d'Orsay, onde se considera que "o caráter laico do Estado" não é posto em discussão por esse projeto. Dom Marc Stenger, presidente da Pax Christi na França – organização católica internacional para a paz – e um dos promotores, reforça: "Toda iniciativa que vise à preservação e à promoção do pluralismo das culturas e das religiões só poderá fazer crescer a paz e a fraternidade entre as pessoas".
A iniciativa também vai ao encontro das recorrentes preocupações da União Europeia, interessada em financiar associações capazes de informar sobre a liberdade religiosa no mundo. O Observatório francês, que espera ser reconhecido e apoiado nesse âmbito, conta também com o apoio de patrocinadores para completar seu orçamento.
Em síntese, ele se inspira, em parte, no relatório publicado anualmente pelo Departamento de Estado dos EUA, que coloca sob observação 198 países em matéria de liberdade religiosa e elabora uma lista dos "países particularmente preocupantes". O último relatório examinou a Coreia do Norte, o Irã e a Rússia. Mas o trabalho não poupa as democracias como a França e a Alemanha, regularmente marcadas pelas restrições impostas à expressão pública das religiões (particularmente com as situações relacionadas ao uso do véu islâmico).
"O nosso observatório não irá se pôr vetos para falar sobre a lei sobre o véu integral votada na França", explica o pastor Jean-Arnold de Clermont, um dos vice-presidentes do Observatório.
Embora os promotores do projeto francês reconheçam que as minorias cristãs nos países de maioria muçulmana são particularmente visados pelos ataques à liberdade religiosa, eles também ressaltam o "caráter ecumênico e secular" do projeto, com uma preocupação reivindicada pela "defesa dos direitos humanos em geral".
Trata-se, ao mesmo tempo, de expandir a visão anglo-saxônica dada pelo Departamento de Estado sobre esse problema e de sair de uma visão puramente cristã, retomada por associações católicas como Ajuda à Igreja que Sofre, especifica De Clermont.
Em um primeiro momento, deverá ser analisada a situação de cerca de 15 países (Turquia, Egito, Síria, Nigéria, Chipre, Cuba, Venezuela, Costa do Marfim, Índia, Irã, Espanha, Cambodja, México). Um diretor, ex-embaixador da França, deverá ser nomeado nos próximos dias para assegurar o funcionamento permanente do Observatório.
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