Os povos indígenas no Paraguai, sua identidade e situação sociocultural foi tema de estudo, na sexta-feira, 07, durante Encontro de diretores e secretários das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Cone Sul. O evento aconteceu em Assunção - Paraguai, e contou com a participação de representantes das POM da Argentina, Uruguai, Chile, Brasil e Paraguai.
O tema foi abordado pela Irmã Raquel Peralta, SSpS, missionária das Servas do Espírito Santo e membro da Coordenação Nacional da Pastoral indígena (CONAPI). Antes de se tornar religiosa, Irmã Raquel já estava envolvida com a luta dos indígenas, povos que ela considera como “os outros, os diferentes, com cultura, cosmo visão, teologia e espiritualidades próprias. Eles têm direito de conservar e viver sua cultura, sua língua, economia e educação”, afirmou a indigenista ao descrever a difícil situação que enfrentam no país. “Quem deseja se aproximar desses povos precisa muito cuidado. Esse é um grande desafio missionário. São culturas ricas, mas por outro lado, são culturas mutáveis”, salientou.
Segundo estatísticas de 2008, no Paraguai vivem 110 mil indígenas, ou seja, apenas 1.7 % da população total do país. Para Irmã Raquel é importante lembrar que esses povos são muito anteriores da sociedade colonial. 91,5% deles se encontram nas áreas rurais distribuídos em 512 comunidades e apenas 8,5% nas cidades. Contudo, nos últimos anos, vem ocorrendo um êxodo para centros urbanos principalmente dos povos Mbyá Guarani e Avá Guarani. Irmã Raquel observou ainda que, 95% da população do Paraguai fala sua língua materna, mas apenas 2% se autodenomina indígena.
A posse da terra
Hoje, cerca de 60% das comunidades indígenas no Paraguai têm suas terras asseguradas por lei. Para 2013, o governo prometeu conceder título a outras 279 mil hectares o que ampliaria para 70% das comunidades. “Por outro lado, isso não representa uma garantia definitiva a exemplo do ocorrido com as comunidades do Itakyry, Alto Paraná, Makutinga e Itapúa”, alertou.
“A terra é sagrada, não pode ser vendida pois é comunitária. Sem a terra tudo fica afetado, a cultura, a identidade, a saúde, a religião. O neocolonialismo é pior que a colonização por que se dá como um processo através de grandes projetos como hidrelétricas, criação de gado e agronegócio. Terra indígena, segundo a lei, não pode ser alienada ou arrendada, mas muitas comunidades não resistem à pressão e acabam cedendo aos fazendeiros, bom número deles brasileiros”. Para Irmã Raquel falta concretizar um projeto de educação indígena que tenha em conta a cultura e a língua, isso por que, segundo ela, “o próprio sistema de educação impõe um modelo de ensino de assimilação e integração”.
As hidrelétricas
Outra questão levantada foi a construção das hidrelétricas binacionais de Itaipu (Brasil-Paraguai) e Yacyretá (Argentina- Paraguai), obras realizadas sem consultar as comunidades. Somente a construção da Itaipu cobriu 50 mil hectares de terra e fez desaparecer 42 comunidades. As questões relacionadas ao impacto sócio ambiental, 40 anos depois, ainda não foram tratadas conforme prometido. Até agora, a empresa devolveu apenas mil hectares de terra e financiou alguns programas sociais de assistência. “As comunidades indígenas ao sul de Itaipu exigem do Estado paraguaio a reparação histórica pelos danos causados na construção da barragem”, destacou Irmã Raquel.
Na avaliação da religiosa, no Paraguai, as leis até são boas, mas não são cumpridas. Explicou que a Pastoral indígena em parceria com outras organizações apoia as comunidades para que tenham acesso aos instrumentos legais na busca dos seus direitos. O trabalho visa preparar ações e propostas para 2013 quando um novo governo assume o poder. “Existem resquícios de resistência. Temos que ajudá-los a fortalecer sua própria identidade e prepará-los para entrar em diálogo com os não indígenas”, disse reafirmando a necessidade de descolonizar a partir das sabedorias insurgentes.
Conquistas e desafios
A pesar das dificuldades, os indígenas estão se fortalecendo e conseguiram algumas conquistas como a participação na elaboração da constituinte nacional, a criação de organizações e associações próprias, avanços na educação e maior presença nos meios de comunicação. Na Igreja obtiveram acesso aos ministérios ordenados e à Vida Consagrada. Dentre os maiores desafios, Irmã Raquel aponta o diálogo com as culturas indígenas, passar da pluriculturalidade à interculturalidade e elaborar novas leis sobre os direitos indígenas.
No sábado, 8, está previsto um momento de partilha sobre os trabalhos realizados pelas POM de cada país ao longo de 2012, e reuniões por grupos de Diretores, Secretários e representantes da Juventude Missionária. Os trabalhos encerram no domingo, 9.
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